quarta-feira, 7 de junho de 2023

O Ovo da Serpente no Seder de Pessach?

 






O Ovo da Serpente no Seder de Pessach?
Nossa história começa na Mesopotâmia, na antiga região de Bavel (Babilônia). Esse é o berço de uma deusa conhecida como a “Rainha dos Céus”. Ishtar era a deusa da fertilidade. Ishtar foi conhecida por diversos nomes, tais como Innana, Oestre, Asherah, e tendo inspirado outras deusas da mitologia de outros povos tais como Afrodite e Isis. A quantidade de culturas que a veneravam atesta para sua grande popularidade. O culto a Ishtar teve sua origem na região da Babilônia nos tempos primitivos, tendo sido adorada através de diversos templos e santuários nas regiões em torno do Tigre e do Eufrates. A popularidade de Ishtar se explica pelo fato de ser considerada a deusa da fertilidade, o que em sociedades agrárias representava muito.
 A Mitologia de Ishta 

Na mitologia Babilônia, Ishtar teve muitos amantes, mas um em particular era pranteado por seu destino trágico: Tamuz (também conhecido como Dumuzi), o deus da colheita. Segundo os relatos encontrados nas tábuas sumérias e acadianas, tais como o texto “O Cortejo de Innana e Dumuzi”, Ishtar teria descido ao mundo dos mortos para tentar usurpar o trono de sua irmã- gêmea. Para adentrar o local, precisou passar por 7 portões, deixando uma peça de roupa em cada. Ao chegar à sala do trono, estava completamente nua. Mesmo assim, assentou-se no trono. Sua arrogância teria despertado a ira dos demais deuses babilônios, que a teriam matado. Ishtar teria enviado Tamuz juntamente com seus próprios demônios para pedir ajuda a alguns deuses. Porém, para ser livrada da morte, apontou Tamuz para morrer em seu lugar. Desde que teria roubado as chamadas tábuas do destino, Ishtar tornou-se conhecida como a “Rainha dos Céus”. Desse título deriva o nome Innana, que J. Gelb em sua obra “The Name of the Goddess Innin” aponta como sendo derivado de “Nin Anna”, que significaria em acadiano “senhora do céu”. Ishtar/Innana era também a filha de Sin, antigo deus-lua da região da mesopotâmia. Seu nascimento estaria associado à lua cheia, que igualmente simbolizava a fertilidade. Afinal, a lua cheia representava o momento da abundância lunar, e a lua tinha papel importante na agricultura. Por ser a deusa da fertilidade, era portanto celebrada especialmente na primeira lua cheia da primavera.

A Deusa-Meretriz 

O culto a Ishtar continha em seu cerne atos de prostituição ritual. Pois, a partir da sua posição enquanto deusa da fertilidade, Ishtar também governava sobre o sexo, isto é, sobre a fertilidade humana. Ishtar/Innana, era portanto conhecida como “a meretriz”, embora o termo não fosse considerado pejorativo entre seus seguidores. Ao lado, a figura de um vaso de cerca de 4 mil anos, exposto no Louvre, ilustra o aspecto de meretriz através da grande ênfase no triângulo genital da imagem. Um dos hinos a Ishtar/Innana, recuperados entre os manuscritos sumérios, o “Hino a Innana como Ninegala”, diz o seguinte: 
“Quando os servos soltam os rebanhos, e quando o gado e as

ovelhas retornam ao curral e ao aprisco, então, minha senhora, como os pobres sem nome, tu vestes uma única vestimenta. As pérolas de uma meretriz são colocadas em volta de teu pescoço, e é provável que captures um homem da taverna”. 

O Ovo e o Nascimento de Ishtar 

Um dos principais símbolos da adoração à deusa Ishtar está no uso litúrgico do ovo. O ovo era considerado na religião babilônia como sendo um símbolo de fertilidade. 
A história mitológica do nascimento de Ishtar é o que a une ao uso litúrgico do ovo pode ainda ser encontrada na mitologia síria, na qual Ishtar era conhecida

como Ashtarte. Um texto romano de cerca do século 2 ou 3 DC, erroneamente atribuído ao historiador Higino, narra o tema da seguinte forma: “No rio Eufrates, um ovo de maravilhoso tamanho é dito ter caído, o qual foi rolado para a margem pelos peixes. Pombas se assentaram sobre ele e, quando se aqueceu, chocou Ashtarte, que foi posteriormente chamada de 'A Deusa Síria'. Uma vez que ela excedeu em justiça e retidão, por razão de um favor concedido por Zeus, os peixes foram contados com as estrelas, e por causa disso os sírios não comem peixe ou pombas, considerando que são deuses”.

 A partir dessa história mitológica, o ovo tornou- se um dos símbolos da deusa Ishtar, passando a ser usado de forma litúrgica em sua adoração. Além de fazerm parte de refeições litúrgicas, os ovos eram decorados com motivos religiosos e arte abstrata, sendo usados como enfeites decorativos. Até hoje, a Pérsia e o Irã retêm o costume de pintar ovos como comemoração ao “Norouz”, que é o ano novo do Zoroastrismo. Ao lado, um exemplo dessa tradição: Onde quer que houvesse influência do culto a Ishtar, o ovo estava presente como parte da comemoração de festas da primavera. O ovo sobre as águas também passou a figurar como uma alegoria mitológica à própria criação do mundo. Ao lado, um exemplo na cultura egípcia do “ovo mundano”. O ovo é reverenciado sobre a Ankh, símbolo que representa a união entre Isis e Osíris. Abaixo, duas imagens clássicas, do livro “Mythology” vol. 3 de Bryant, mostram à esquerda o Ovo de Heliópolis, a cidade egípcia do deus-sol. Esse ovo tem sobre si a figura do crescente visível, associado à adoração do deus-lua Sin, pai de Ishtar/Innana. À direita, o Ovo de Tifon, da mitologia grega – que ilustra sua associação com Afrodite, a contraparte grega de Ishtar.
Israel e Ishtar nos Tempos Antigos 

Considerando que o culto à deusa Ishtar é bastante primitivo e difundido, a relação entre Israel e Ishtar começou bastante cedo. Sobre isso, a Enciclopédia Judaica afirma: “Astarte é o nome fenício de uma deusa-mãe semita primitiva, da qual as mais importantes divindades semitas se desenvolveram. Ela era conhecida na Arábia como “Athtar”, e na Babilônia como “Ishtar”. Seu nome aparece no Antigo Testamento (Melachim Alef/1 Reis 11:5; Melachim Beit/2 Reis 23:13) como “Ashtoret”, uma distorção de “Ashtart”, feita a partir da analogia de “Boshet” (compare com Jastrow, em “Jour. Bibl. Lit.” 13:28, nota). Shlomo (Salomão) teria erguido um lugar alto para ela próximo a Yerushalayim (Jerusalém), o qual teria sido removido durante a reforma de Yoshiyahu/Josias (Melachim Alef/1 Reis 11:5,33; Melachim Beit/2 Reis 23:12). Astarte é chamada nessas passagens de “a abominação dos sidônios” porque, como as inscrições de Tabnith e Eshmunazer mostram, ela era a principal divindade daquela cidade (vide Hoffmann, “Phönizische Inschriften,” 57, e “C. I. S.” No. 3). Em países fenícios, ela era a contraparte feminina de Ba'al, e certamente foi adorada com ele pelos hebreus, os quais em alguns momentos se tornaram seus devotos. Isto é provado pelo fato de que Ba'alim e Ashtarot são usados diversas vezes (Shoftim/Juízes 10:6; Sh'muel Alef/1 Samuel 7:4 e 12:10)..”.

De fato, isso aparece bem cedo nas Escrituras: “Tornaram os filhos de Israel a fazer o que era mau perante YHWH e serviram aos ba’alim, e a Ashtoret, e aos deuses da Síria, e aos de Sidom, de Moabe, dos filhos de Amom e dos filisteus; deixaram YHWH e não o serviram.” (Shoftim/Juízes 10:6) Podemos perceber, portanto, desde cedo que os israelitas começaram a seguir a Ishtar, e que isso foi considerado abominação por Elohim. Até mesmo Shlomo (Salomão) caiu em tal pecado: Shlomo seguiu a Ashtoret, deusa dos sidônios, e a Milcom, abominação dos amonitas.” (Melachim Alef/1 Reis 11:5) Todavia, após a reforma realizada por Yoshiyahu (Josias), conforme a própria Enciclopédia Judaica afirma, o povo voltou para as práticas bíblicas, para a fé em Elohim, e deixou a abominação de lado, pelo menos temporariamente: O rei profanou também os altos que estavam defronte de Yerushalayim, à mão direita do monte da Destruição, os quais edificara Shlomo, rei de Israel, para Ashtoret, abominação dos sidônios, e para Quemos, abominação dos moabitas, e para Milcom, abominação dos filhos de Amom.” (Melachim Beit/2 Reis 23:12) Porém, o povo de Yehudá (Judá) voltaria a adorar Ishtar após o seu retorno do exílio de Bavel (Babilônia). Essa adoração foi novamente denunciada, dessa vez pelos nevi’im (profetas), conforme a Enciclopédia Judaica afirma: “Yirmiyahu/Jeremias (7:18; 44:17,18) e Yehezkel/Ezequiel (8:14) atestam para várias formas dessa adoração [a Ishtar] em seu tempo, a qual pode se referir a uma importação direta da Babilônia. O uso sacrificial de sangue de porco (Isa. 65:4 e 66:3) podem ser uma referência a esse tipo de culto similar ao que é conhecido no Chipre, onde porcos eram sacrificados a Astarte (“Jour. Bibl. Lit.” 10:74 e “Hebraica,” 10:45,47)” De fato, Yirmiyahu (Jeremias) denuncia a prática, ao afirmar: “Acaso, não vês tu o que andam fazendo nas cidades de Yehudá e nas ruas de Yerushalayim? Os filhos apanham a lenha, os pais acendem o fogo, e as mulheres amassam a farinha, para se fazerem bolos à Rainha dos Céus; e oferecem libações a outros deuses, para me provocarem à ira.” (Yirmiyahu/Jeremias 7:18) Yehezkel cita ainda a prática de adoração ao consorte de Ishtar, Tamuz: “Levou-me à entrada da porta da Casa de YHWH, que está no lado norte, e eis que estavam ali mulheres assentadas chorando a Tamuz.” (Yehezkel/Ezequiel 8:14) 
O Retorno às Práticas Babilônias 
Algum tempo depois do exílio, algumas seitas judaicas, por razões de perseguição religiosa e tentativa de domínio sobre a vida eclesiástica do povo de Israel, passaram a seguir o calendário babilônio que, à época, fora popularizado pelos siro- fenícios como um calendário internacional. Á época, eram muito raros os calendários inteiramente civis, o que significava que os calendários estavam profundamente associados às práticas religiosas. E o calendário babilônio não era diferente. Assim como costumes associados ao ano-novo babilônio, conhecido como festival do de Akitu, foram incorporados pelo Judaísmo, o mesmo ocorreu com alguns costumes da festa da fertilidade de Ishtar. Um deles, pode- se dizer, a celebração do Pessach associada à lua cheia. Para maiores informações sobre a controvérsia calêndrica em Israel, bem como sobre a adoção do calendário babilônio por parte de alguns segmentos do Judaísmo, vide nossa série de estudos sobre o calendário.

Ishtar à mesa de Elohim 

Outra influência que pode ser observada no Judaísmo Ortodoxo é a presença do ovo de Ishtar no Seder (“jantar”, na realidade “serviço” ou “ordem”) de Pessach! A figura abaixo mostra um tradicional prato de Pesach (a “Páscoa” judaica) contendo os elementos que são usados no ritual litúrgico: Podemos observar os seguintes elementos: Ervas amargas, conforme indicado em Shemot (Êxodo) 12:8 

Vegetais, simbolizando as primícias da época da primavera, que remontam a Vayicrá (Levítico) 23:10 

O osso chamuscado do cordeiro – embora para muitos seguidores de Yeshua esse rito não seja realizado, podemos ainda dizer que tem relação com o Corban Pessach (sacrifício de Pessach), que era um cordeiro .

 O ovo da deusa Ishtar! Será coincidência a presença de um ovo, que não tem absolutamente nada a ver com a narrativa bíblica da saída de Mitsrayim (Egito) mas que tem tudo a ver com a festa da fertilidade de primavera da deusa Ishtar, estar presente numa festa cuja época se encaixa com tal festa pagã? As explicações para a presença desse verdadeiro ovo de serpente no seder judaico são as mais variadas. Explicações extraoficiais tais como “a sorte gira” ou “o ovo simboliza a vida” (faltou ressaltar que simboliza a vida em culturas pagãs), são dadas das formas mais variadas e inusitadas. Mas fato é que esse embaraço permanece contaminando as mesas judaicas até os dias de hoje, e ninguém sabe explicar como lá apareceu. A explicação “oficial” do Judaísmo é dada por Shaina B. Lipskier, que afirma o seguinte: “Os dois simbolismos do ovo não devem ser confundidos: Ele é 'exibido' no prato do Seder para comemorar a oferta de chaguigá [oferta festiva]. Ele é “comido” antes da refeição como sinal de pranto”. Ora, a oferta a que Shaina B. Lipskier se refere seria supostamente uma oferta “adicional” oferecida juntamente com o Corban Pessach (sacrifício de Pessach), que era comida como “entrada” para o corban pessach. Só existe um pequeno detalhe: A Torá jamais menciona tal oferta. E, ainda assim, seria estranho imaginar que um ovo (mesmo cozido ou assado) faria alusão a uma oferta queimada. E mais estranho ainda que o ovo simbolizasse o luto.

Na realidade, a oferta adicional existe, e o luto também. A oferta é feita à deusa Ishtar, e o luto é todo de Elohim, que mais uma vez vê o seu povo absorver costumes de Bavel (Babilônia), contrariando a Sua Torá, que afirma: “E não andeis nos costumes das nações que eu expulso de diante de vós, porque fizeram todas estas coisas; portanto fui enfadado deles.” (Vayicrá/Levítico 20:23) Yeshua advertiu os líderes do povo ao dizer: “Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homem.” (Matitiyahu/Mateus 15:9) 

Conclusão :
Devemos tomar muito cuidado com a idolatria a tudo o que é judaico. Nem tudo o que reluz é ouro, como diz o ditado popular. Elohim nos chamou e nos determinou especificamente que deixássemos o sistema religioso de Bavel (Babilônia). Todavia, existe ainda muito pouco cuidado por parte dos israelitas no que diz respeito à pesquisa das origens do que está por detrás das práticas do Judaísmo Rabínico. Muitas práticas pagãs, babilônias e de outras religiões, foram incorporadas ao longo dos séculos, e é preciso analisá-las à luz da Bíblia. Ao participar do Pessach, não o façamos de forma leviana, mas sim entendendo que temos a responsabilidade de nos atermos à pureza da fé bíblica. Assim como Sha’ul (Paulo) nos afirma que Belial não tem parte com a Casa de Elohim, da mesma forma o ovo da serpente, um dos ícones da deusa-meretriz, não deve ter parte da mesa de Elohim.

Shalom



quarta-feira, 3 de maio de 2023

Yeshua a tórah viva.







The Written Torah and the Oral Torah | My Jewish Learning



YESHUA VEIO EXPLICAR A TORÁ

Uma das maiores declarações do Mashiach no sentido de que a Torá permanece em vigor reside no livro de Matityahu/Mateus, no qual disse Yeshua:
“17. Não pensem que vim abolir a Torá ou os Profetas. Não vim para abolir, mas para cumprir.
18. Sim, é verdade! Digo a vocês: até que os céus e a terra passem, nem mesmo um yud ou um traço da Torá passará – não até que todas as coisas que precisam acontecer tenham ocorrido. 19. Portanto, quem desobedecer à ‘menor’ dessas mitsvot [mandamentos] e ensinar outras pessoas a agirem da mesma forma será chamado menor no Reino dos Céus.”
(Mt 5:17-19).

No verso 17, Yeshua assevera que não veio para abolir a Torá, mas para cumpri-la. Muitas pessoas não entendem que neste texto o Mashiach estava se valendo de expressões idiomáticas de seu tempo. No primeiro século, quando alguém ensinava a Torá incorretamente, dizia-se que esta pessoa estava “abolindo” a Torá. De fato, se  cidadão distorcer a Palavra do ETERNO a tal ponto de transformá-la em “outra palavra”, isto equivale à invalidação da primeira. Isto é um fenômeno que ocorre até mesmo nos dias de hoje, pois há líderes religiosos que ensinam erroneamente que a Bíblia autoriza o homossexualismo, razão pela qual esta lição antibíblica termina por invalidar, na prática, o preceito que veda as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo (Vayikrá/Levítico 18:22 e 20:13). Em suma, em Matityahu/Mateus 5:17, “abolir” significa ensinar contrariamente à Torá, invalidando-a. Por outro lado, “cumprir” tem o sentido rabínico de instruir alguém corretamente conforme a Torá.
A explicação ora bosquejada conta com o apoio do rabino James Trimm:
“Para começar, deve-se saber que essa referência a ‘cumprir’ a Torá versus ‘destruir’ a Torá é realmente uma utilização comum de uma expressão hebraica usada ainda hoje por rabinos nas yeshivas [escolas rabínicas]. ‘Cumprir’ a Torá é uma expressão que significa ‘ensinar o significado da Torá e observá-lo corretamente’, este é o verdadeiro significado para se cumprir. Enquanto ‘destruir’ a Torá é uma expressão que significa ‘ensinar de forma incorreta o significado da Torá e/ou violar a Torá’. Isto é destruir o verdadeiro significado da Torá. Ainda hoje nas yeshivas e nos Beit Midrashes, os rabinos entram em debates acalorados um com o outro, batendo um punho na mesa e declarando ‘você destruiu a Torá’, ou elogiando outro rabino dizendo: ‘você cumpriu a Torá’. Vale ressaltar que nos próximos versículos Yeshua pesa sobre as controvérsias sobre a interpretação de vários mandamentos da Torá e nos dá o seu significado verdadeiro e correto, então, o uso de Yeshua do termo ‘cumprir a Lei’ versus ‘destruir’ a Lei é totalmente de acordo com o normal uso idiomático da língua hebraica para esses termos.”
(What do you Mean...Yeshua "Fulfilled the Law"? (Mt. 5:17))

Infere-se daí que as palavras de Yeshua podem assim ser interpretadas: “Não vim para abolir...” equivale a “não vim ensinar incorretamente a Torá”. E a expressão “mas para cumprir” tem o sentido de lecionar a Torá da forma adequada.
Eis uma tradução interpretativa da mensagem do Mashiach em Mt 5:17: “Não pensem que eu vim distorcer a Torá e os Profetas. Eu não vim para distorcê-los, mas para ensiná-los do modo correto”.
Nas boas novas (evangelho) de Matityahu/Mateus em hebraico, o verbo que aparece e geralmente é traduzido como “cumprir” é מלא (male). Este possui plurivalência semântica: confirmar, encher, realizar, executar e completar. Algo interessante no hebraico é que uma palavra possui vários sentidos e o locutor pode querer transmitir todos ao mesmo tempo, ou seja, não existe um sentido certo e outro errado, todos são admissíveis simultaneamente. Então, pode-se retraduzir Matityahu/Mateus 5:17 com várias nuances:
a) “Não pensem que vim abolir a Torá ou os Profetas. Não vim para abolir, mas para confirmar (למלא)”. Yeshua confirmou a Torá, ratificando-a. Logo, é totalmente inconsistente o ensino cristão de que a Torá foi extinta;
b) “Não pensem que vim abolir a Torá ou os Profetas. Não vim para abolir, mas para encher (למלא)”. Yeshua veio para encher o mundo da Torá, ou seja, propagá-la o máximo possível;
c) “Não pensem que vim abolir a Torá ou os Profetas. Não vim para abolir, mas para realizar/executar (למלא)”. Yeshua realizou (=concretizou) a Torá em todas as suas ações, visto que nunca pecou;
d) “Não pensem que vim abolir a Torá ou os Profetas. Não vim para abolir, mas para completar (למלא)”. Yeshua ensinou a Torá de uma forma muito mais profunda do que qualquer mestre, acrescentando (=completando) explicações em nível de maior elevação espiritual. Dizendo de outro modo, o Mashiach tornou a Torá plena em nossos corações.
Todos os sentidos e interpretações citadas acima são admissíveis, e são claras no sentido de que o Mashiach nunca aboliu a Torá!
Já no verso 18 de Matityahu/Mateus 5, o Mashiach assevera que nem mesmo um yud seria tirado da Torá. Yud é a menor letra do alfabeto hebraico, assim se escrevendo: י. Conseguiu enxergar caro leitor? Apesar de ser bem pequenino o yud, Yeshua garantiu que nem mesmo esta letra poderia ser subtraída da Torá. Se nem o que é minúsculo pode ser destruído, que dirá todo o resto? Em suma, nada da Torá pode ser retirado “até que os céus e a terra passem” (Mt 5:18). O mesmo conceito aparece em Lucas:
“É mais fácil o céu e a terra desaparecerem que se tornar vazio um traço de uma letra da Torá”
(Lc 16:17).

Já que os céus e terra não passaram, permanece em pleno vigor a Torá!!!
Talvez Yeshua tenha mencionado o yud (Mt 5:18) em lembrança à famosa história rabínica acerca do rei Shlomoh (Salomão), retratado se imiscuindo da Torá:
“Ele disse: ‘Porque YHWH Todo-Poderoso – bendito seja, disse [referindo-se ao rei], ‘Ele não multiplicará [ירבה] suas mulheres’ [(Dt 17:17]? Apenas para que ‘o coração do rei não se desencaminhe’. Eu [Salomão] as multiplicarei [ארבה], mas meu coração não se desencaminhará.
Nossos sábios disseram: Naquele momento, a letra yud levantou-se e se prostrou diante de YHWH – bendito seja – e disse: Senhor do Universo, não dissestes que nenhuma letra da Torá será jamais destruída? Vede, Salomão me destruiu, substituindo um yud por um álef, quer dizer, mudando ירבה por ארבה. Uma letra hoje, outra amanhã até que toda a Torá seja destruída. YHWH – bendito seja – respondeu: Salomão e outros mil como ele podem tentar destruir, mas eu não permitirei que um traço da Torá seja destruído.”
(Midrash Rabah Shemot 6:1). 

Após confirmar que nem um yud poderia ser subtraído da Torá, Yeshua conclui:
“Portanto, quem desobedecer à ‘menor’ dessas mitsvot [mandamentos] e ensinar outras pessoas a agirem da mesma forma será chamado menor no Reino dos Céus.”
(Mt 5:17-19).

Qual é o menor de todos os mandamentos? De acordo com a tradição judaica, é o texto que se encontra em Devarim/Deuteronômio 22:6: Se você passar por um ninho de pássaros, numa árvore ou no chão, e a mãe estiver sobre os filhotes ou sobre os ovos, não apanhe a mãe com os filhotes”. Trata-se de uma lei de proteção ao direito dos animais, proibindo que o ser humano interfira na família de pássaros. Segundo Yeshua, quem desobedecer esta lei, chamada de “a menor”, será chamado de “menor” no Reino dos Céus, ou seja, aquele que desrespeita os animais até que consegue entrar no Reino, mas é o menor, o último da fila. Por inferência, quem transgredir deliberadamente mandamentos “maiores” do que a proteção aos animais estará fora do Reino, exceto se arrepender-se de forma verdadeira.
Aqui, o Mashiach quis demonstrar que todos os mandamentos da Torá são válidos e importantes. Até mesmo a violação do menor (direito dos animais) tem como consequência rebaixar a pessoa no Reino dos Céus, tornando-a menor, e com menor galardão.   
Em que pese o Cristianismo afirmar incorretamente que a Torá foi abolida, vem crescendo ultimamente o número de estudiosos cristãos que defendem a validade da Lei. Escreveu o Ph.D David Friedman:
“Estas duas seções da Escritura (Mateus 5 e 24) nos dão uma imagem consistente do ensino de Yeshua sobre a Torá. Sua mensagem é que a Torá é válida e deve ser respeitada e observada. Na verdade, tal conclusão é alcançada por um número crescente de estudiosos judeus e cristãos.”
(They Loved the Torah: What Yeshua's First Followers Really Thought about the Law, página 32)

Cita-se o escólio de Geza Vermes, Professor da Universidade de Oxford:
“Em nenhum trecho do Evangelho Jesus é visto tomando deliberadamente a iniciativa de negar ou de alterar substancialmente qualquer mandamento da Torá em si.”
(A religião de Jesus, o Judeu, Imago, página 28).

Até mesmo pastores evangélicos estão percebendo que a Torá é eterna e que Yeshua não a anulou. Prega o ínclito Pastor Larry Huch:
“Percebi que Jesus e Seus discípulos não foram judeus convertidos, mas sim, judeus praticantes – guardadores da Torá”.
“Como aprendemos, Torá significa ‘professor, guia, caminho’, mas também se refere aos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Jesus disse então: Não vim para destruir os cinco livros de Moisés ou os profetas e tudo que ensinaram, mas para ensinar, cumprir e dar poder a vocês, através do Espírito Santo, para caminharem segundo a Torá’”
(A Bênção da Torá, 2011, páginas 18 e 60).

Relevante esclarecer que o belíssimo Sermão da Montanha (Mt 5 a 7) é uma verdadeira aula sobre os aspectos mais importantes da Torá, cumprindo Yeshua o papel de ensinar e explicar a Lei de Moisés de modo mais profundo. Com efeito, os Manuscritos do Mar Morto apontam que, mesmo antes do nascimento de Yeshua, já havia uma forte expectativa no Judaísmo de que o Messias seria “o Intérprete da Torá”, explicando a Lei e revelando seus mistérios até então não compreendidos pelos homens:
E a estrela [referência ao Messias, Nm 24:17] é o Intérprete da Torá.”
(Documento de Damasco, Col.VII, 18).

Este também é o entendimento rabínico:
“Outra inovação messiânica importante diz respeito ao conhecimento da Torá. Rambam decreta: ‘Pois naqueles dias [messiânicos], o conhecimento, a sabedoria e verdade aumentarão... Pois o rei davídico que surgirá será mais sábio que Shelomô e um grande profeta, aproximando-se [do nível profético de] Moshê nosso mestre’.
(...)
Como diz Chazal: ‘uma Torá brotará de mim’ [Yeshayáhu 51:4] – ‘Uma nova Torá brotará de mim’ (Vayicrá Rabá 13:3). Pois ‘no futuro, o Eterno, bendito seja, Se sentará... e explicará uma nova Torá, que será dada por Mashiach (Yalkut Shimoni, Yeshayáhu 429). Ou seja, haverá uma tremenda revelação da sabedoria da Torá que será considerada uma ‘nova’ Torá.
(...)
Um dogma fundamental do Judaísmo é a imutabilidade da Torá. Como decreta Rambam, ‘...nada pode ser tirado ou acrescentado’ (Hilchot Yessodei HaTorá 9:1). Nem mesmo um grande profeta pode mudar alguma coisa, pois a Torá ‘não está no Céu’ (Devarim 30:12). Como então, Mashiach poderá interpretar a Torá? E como é possível que ‘A Torá que o homem aprende neste mundo seja vã comparada com a Torá a ser estudada nos dias de Mashiach’ (Cohelet Rabá 11:8)?
Chazal e Rambam enfatizam que, embora o próprio Hashem tenha dado a Torá no Sinai, a ‘nova Torá’ será revelada por Mashiach. Pois a Outorga da Torá foi um evento único; desde então, ela ‘não está no céu’, portanto quaisquer revelações subsequentes devem vir através de um ser humano, i.e., Mashiach.
Como qualquer erudito, Mashiach tem o direito de revelar percepções da Torá adquiridas não profeticamente, mas por dedução.
A grandeza do Mashiach, no entanto, estará em seu esclarecimento dos assuntos até então ocultos.”
(Os Dias de Mashiach, Menachem M.Brod, páginas 145 e 146).

Logo, é errôneo o pensamento cristão de que Yeshua trouxe lições contrárias à Lei. A bem da verdade, o Mashiach foi ao âmago da Torá e a apresentou com tanta intensidade no Sermão da Montanha (Mt 5 a 7) que suas instruções chegam a parecer uma “nova” Torá, porém, trata-se da mesma Torá explicada e comentada pela própria Sabedoria Personificada (Mishlei/Provérbios 1:20-33). Já que Yeshua realmente é o Mashiach, sua missão relaciona-se à revelação da Lei do ETERNO, e não poderia ser de outro modo, visto que quem prega contra a Torá é considerado um falso profeta, ainda que faça sinais e prodígios (Devarim/Deuteronômio 13:16; versões cristãs: Dt 12:32 a 13:5).
Já que o Cristianismo frisa que “Jesus revogou a Lei”, judeus tradicionais terminam por rejeitar Yeshua, reputando-o como falso profeta, à luz das citadas passagens de Deuteronômio. Quando os judeus percebem que Yeshua realmente ensinou a Torá e com maior profundeza espiritual, é mais fácil que o reconheçam como Mashiach. Já sabendo o Nazareno que falsos mestres diriam que ele aboliu a Lei (doutrina maligna sustentada pelo Cristianismo), quis colocar uma pá de cal no assunto:
“Não pensem que vim abolir a Torá ou os Profetas. Não vim para abolir, mas para confirmar
(Mt 5:17).
Shalom

Antes que Abraão existisse “EU SOU”:

 


 Este texto afirma a pré-existência de Jesus?





Antes que Abraão existisse “EU SOU”: Este texto afirma a pré-existência de  Yeshua 

  ( Jesus)?

“Disse-lhes Yeshua: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou.” (João 8.58) 

Vamos analisar o contexto dessa declação? Qual a linha de desenvolvimento da conversa de Yeshua com os sacerdotes e judeus e as referências históricas e Bíblicas que justificavam esta conversa?

Primeiramente eles desafiaram Yeshua  trazendo-lhe uma mulher que havia sido pega em pleno ato de adultério:

“Yeshua, porém, foi para o Monte das Oliveiras. E pela manhã cedo tornou para o templo, e todo o povo vinha ter com ele, e, assentando-se, os ensinava. E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando.” (Yohanan 8.1-4)

Eles desafiaram Yeshua     com uma pergunta por julgarem que ele, como Mestre  e alguém que se dizia o Enviado ou Ungido, pois ensinava no pátio do templo e dava testemunho sempre disto no seu ministério, então eles fazem a seguinte pergunta:

“E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Yeshua, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra.” (João 8.5,6)

Eles estavam testando Yeshua.

  Yeshua  se saiu muito bem no teste e eles, mais desafiados ainda, buscaram alguma contradição para ter o que o acusar. Você alguma vez já esteve diante da situação em que pessoas, insufladas de ódio contra você, tentam buscar em suas palavras qualquer coisa para te acusar? Sabe como funciona a mente de pessoas assim? Elas vêm coisas aonde não existem e aumentam e distorcem qualquer palavra dando-lhe sentidos diferentes. É uma situação difícil quando estamos diante de pessoas que nos odeiam buscando lançar ciladas. Até aqui não precisamos de muito mais argumento para entender a esfera de armadilha daquele momento que envolvia Yeshua  com seus inimigos.

Yeshua  continua a dar testemunho de sua obra e este testemunho se resume como Enviado de D-US ( O Ungido ou Siló, o prometido). A conversa gira em torno deste testemunho, onde Jesus procura persuadir aqueles que lhe ouviam que ele era o messias ( EU SOU). Esta mesma circunstância havia acontecido em sua própria cidade de Nazaré ao ler o trecho de Isaias 61 em uma sinagoga e ali declarar-se o Messias. Estes fatos já eram de amplo conhecimento de todos os judeus pois a fama de  Yeshua (Jesus) em todo Israel era grande e conhecida:

“Falou-lhes, pois, Yeshua  outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida. Disseram-lhe, pois, os fariseus: Tu testificas de ti mesmo; o teu testemunho não é verdadeiro.” (João 8.12,13)

NOTA: Os judeus estão decididos a não aceitar nada de Yeshua   como verdadeiro e isso já é uma posição pré-concebida. Quando estamos cheios de ideias pré-concebidas e que por tradição recebemos de nossos pais, ficamos com uma penumbra sobre nós e não podemos ver a luz da verdade que está nos sendo passada. Somente quando despojados deste estado espiritual que podemos ver a verdade e a luz. Assim era o caso destes judeus e este era o ambiente cognitivo deles durante este episódio.

Não encontramos nenhum lugar da Bíblia Jesus tentando defender uma preexistência sua diante dos judeus. Todos os testemunhos de Yeshua ha mashiá é de persuadi-los que ele era de fato o Messias, o Prometido que eles tanto aguardavam. Acredito que dispensa citações bíblicas uma a uma para demonstrar isso, porém trataremos cada caso de citações onde os judeus tentam, por uma questão conveniente, acusá-lo de Blasfêmia por ser fazer igual a D-us ou dizer que era pré-existente. Esses episódios ocorrem mais no Evangelho de Yohanan (João) porque os judeus estavam interessados em distorcer qualquer declaração de Yeshua e amplificá-la para acusá-lo de Blasfemo. Yeshua mesmo defende-se e cita as escrituras como base a suas afirmações de Filho de D-us (estado adquirido "pelo Espirito de santificação, e confirmado Pela ressurreição).

Finalmente Yeshua então diz sobre a Abraão, o Patriarca que, pela fé, aguardava a vinda do Messias, o Prometido, sendo de igual modo passado aos seus descendentes esta esperança como o caso de Ya'akov (Jacó), seu neto:

“O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a ele se congregarão os povos.” (Gênesis 49.10)

Abraão contemplou esta esperança que já remontava desde o Éden, aquele descendente de Mulher que pisaria a cabeça da serpente ( Gen. 3:15). No dia de oferecer Isaque, seu único Filho, ele disse que o Senhor proverá, vendo pela fé o Messias prometido. Esta fé de um príncipe descendente de Abraão da tribo de Judá sempre esteve com Israel. Sobre isso Yeshua  se referia aos lideres  religiosos  opositores, ao que lhe leva então confirmar diante deles este testemunho. Por esta causa Yeshua  então lhes diz:

“Vós fazeis as obras de vosso pai. Disseram-lhe, pois: Nós não somos nascidos de fornicação; temos um Pai, que é D-us. Disse-lhes, pois, Yeshua: Se D-us fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de D-us; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou. Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra.” (João 8.41-43)

NOTA: Yeshua procura falar a linguagem deles, que era o enviado, o prometido do D-us de Israel, o Mashia.  Porém, eles não aceitam de forma nenhuma, como dissemos, pois estavam já determinados a condenar Yeshua e não aceitar nada que pudesse vir dele.

Yeshua  então continua explicando:

“Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte. Disseram-lhe, pois, os judeus: Agora conhecemos que tens demônio. Morreu Abraão e os profetas; e tu dizes: Se alguém guardar a minha palavra, nunca provará a morte. És tu maior do que o nosso pai Abraão, que morreu? E também os profetas morreram. Quem te fazes tu ser?” (João 8.51-53)

NOTA: Eles continuam rejeitando e distorcendo o que Yeshua  falava. Yeshua  estava falando da ressurreição da vida, eles, porém, estavam entendendo que lhes falava que ele era imortal, pois sendo assim, somente D-us é imortal, teriam do que acusá-lo de blasfêmia. Veja nesta passagem que Yeshua  declara aos que lhe ouvem, que se alguém ouvir a minha palavra nunca verá a morte. Eles, porém distorcem para outro sentido, dizendo que ele estaria declarando imortalidade e uma preexistência. Não foi absolutamente isso que Yeshua quis dizer, ele estava buscando convencê-los de que era o Messias , o Enviado de D-us o prometido aos profetas e Patriarcas .

O Episódio continua, com o seguinte desfecho:

“Yeshua  respondeu: Se eu me glorifico a mim mesmo, a minha glória não é nada; quem me glorifica é meu Pai, o qual dizeis que é vosso D-us. E vós não o conheceis, mas eu conheço-o. E, se disser que o não conheço, serei mentiroso como vós; mas conheço-o e guardo a sua palavra. Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se. Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão? Disse-lhes Yeshua : Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou. Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Yeshua ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou.” (João 8.54-59)

Yeshua declara que é aquele a quem Abraão e os profetas falaram, se declara como o Messias: EU SOU. Porém, na mente daqueles judeus, era melhor entender que Ele se fazia igual a D-us para justificar o apedrejamento por blasfêmia. Aceitar o testemunho de Yeshua de que ele é o Messias, o prometido, é entender sem amplificar e nem atribuir as palavras de Yeshua a conotação blasfema que os Judeus tentavam acusar de se fazer igual a D-US.

Toda a narrativa do testemunho de Yeshua  é declarar que ele é o Mashiah, o MESSIAS PROMETIDO, e não evoca uma deidade ou pré-existência como Ser ao lado do Pai. Mesmo porque, o termo “enviado de D-us” ou “saído de D-us” quer indicar “VIM EM NOME do D-us Único“, esta era a promessa de que o Messias falaria as palavras de D-us diretamente a todos e revelaria toda plenitude da vontade do Pai Celestial. Moises falou de um profeta semelhante a ele e que neste profeta estaria a palavra de D-US ( Logos). Moises mesmo declarou:

“O Senhor teu D-us te levantará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis; Conforme a tudo o que pediste ao Senhor teu D-us em Horebe, no dia da assembleia, dizendo: Não ouvirei mais a voz do Senhor teu D-us, nem mais verei este grande fogo, para que não morra. Então o Senhor me disse: Falaram bem naquilo que disseram. Eis lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. E será que qualquer que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, eu o requererei dele.” (Deuteronômio 18.15-19)

Neste contexto, o ( logos ) se fez carne e habitou no nosso meio. Isso significa que a mesma palavra que estava na BOCA DO ÚNICO e ETERNO Deus no princípio estaria na Boca do MESSIAS no meio de nós. Neste sentido Yeshua  (Jesus)" preexistiu" nos Planos do Eterno D-us, Aquele enviado EM SEU NOME, gerado (gennesis) no Ventre de Maria na Plenitude dos tempos para cumprir todo Conselho de D-us e Sua Soberana vontade anunciada desde o principio, pois nisto diz que as saídas do Messias vem desde a Eternidade, o Cordeiro que foi morto ainda antes da fundação do Mundo. ( Miquéias 5:1, Apocalipse 13:12 );

O Messias vem ao mundo como aquele que não apenas concretiza, mas que também nos dar a conhecer todo o projeto da criação divina. Antes de dar início a criação, D-us tinha um projeto, uma imagem que serviu de modelo de toda criatura criada no céu e na terra. Este modelo é o Messias que havia de vir.

Então, como entender a expressão ANTES DE ABRAÃO EU SOU?

O Filho do Homem, o descendente da mulher que derrotaria a antiga serpente, Shiló [aquele a quem pertence o reino], o Eleito, o Messias, o desejado de todas as nações, enfim, aquele que há de vir, todos esses são títulos que descrevem um personagem que já era esperado desde os primórdios da humanidade. Todos os povos primitivos sempre aguardaram uma figura escatológica que viria como Grande Rei universal, o Redentor. Este é o Filho do Homem através do qual todas as famílias da terra seriam abençoadas, em seu nome. Ele era conhecido por muitos nomes, e já no tempo de Abraão se aguardava a sua chegada. 

“Mas, felizes são os olhos de vocês, porque veem; e os ouvidos de vocês, porque ouvem. Pois eu vos digo a verdade: Muitos profetas e justos desejaram ver o que vocês estão vendo, mas não viram, e ouvir o que vocês estão ouvindo, mas não ouviram.” (Mateus, 13:16-17)

“Depois disse aos seus discípulos: “Chegará o tempo em que vocês desejarão ver um dos dias do Filho do Homem, mas não verão. Dirão a vocês: ‘Lá está ele!’ ou ‘Aqui está!’ Não se apressem em segui-los.” (Lucas, 17:22:23)

O Filho do Homem, o Messias, aquele que vem, ou seja lá o nome que se dê a esta figura eminente, ele sempre esteve presente nos sonhos da humanidade, a verdade é que a humanidade sempre esperou por um Messias, um Salvador.

Vamos chamá-lo simplesmente de Filho do Homem porque é a alcunha mais antiga, por ser o esperado Filho de Adão que recuperaria aquilo que Adão perdeu, e que derrotaria a antiga serpente. 

Ora, quando se diz que Abraão desejava ver o dia do Filho do Homem não está se afirmando nenhuma novidade, pois, desde os dias de Adão a humanidade espera pelo descendente prometido que restauraria a humanidade. Com Abraão não era diferente, ele também esperava por Shiló, o Grande Rei esperado, e qual não foi sua alegria quando Deus lhe revelou que aquele em quem todas as famílias da terra viria ao mundo como seu descendente? Já imaginou a honra de ser ancestral do “Filho do Homem” que havia de vir? É dito nas tradições da época de Abraão que D-us lhe mostrou em visão todo o futuro de sua descendência, e nessa visão foi lhe mostrado os dias do Rei-Messias, ou seja, a era messiânica. Então Abraão morreu feliz, e descansou na esperança, sabendo que esses dias se realizariam no futuro escatológico.

Yeshua estava consciente de ser o Filho do Homem que havia de vir. Portanto, quando Yeshua dizia coisas do tipo: Eu sou a luz do mundo, ele falava com propriedade.

“Disse-lhes Yeshua: Se D-us fosse vosso pai, certamente, me amaríeis, porque vim da parte de D-us e aqui estou. Eu não vim por minha conta, mas foi ele que me enviou.” (João 8:42)

“Eu não estou buscando glória para mim mesmo; mas, há quem a busque e julgue. Asseguro-vos que, se alguém obedecer à minha palavra, jamais verá a morte [eterna]. Diante disso, os judeus exclamaram: Agora estamos certos de que você está endemoninhado! Abraão morreu, bem como os profetas, mas você diz que se alguém obedecer a sua palavra, nunca experimentará a morte? És, porventura, maior do que o nosso pai Abraão, que morreu? Os profetas também morreram. Quem você pensa que é? (Jo 8:50-53)

Estes judeus tinham uma visão muito pequena do que seria o Messias, o Filho do Homem. Eles pensavam no Messias em termos de um mero rei secular da linhagem de Davi, eles não levaram em consideração que o Messias sempre foi a esperança da humanidade, desde os primórdios ele era esperado. O Messias viria como nossa ressurreição e vida eterna. Todos os nossos sonhos estavam escondidos no Messias, pois D-us o predestinou para este fim. Portanto, Yeshua não mentiu quando disse que quem o seguisse não veria a morte, ele falou isso sabendo que ele era o Messias.

“Respondeu Yeshua: “Se glorifico a mim mesmo, a minha glória não tem valor. O meu Pai, que vocês dizem ser o vosso D-us, é quem me glorifica. Vocês não o conhecem, mas eu o conheço. Se eu dissesse que não o conheço, seria mentiroso como vocês, mas eu de fato o conheço e obedeço à sua palavra. Abraão, o vosso pai, regozijou-se por ver o meu dia; ele o viu e alegrou-se. Disseram-lhe os judeus: Você ainda não tem nem cinqüenta anos, e viu Abraão? Respondeu-lhesYeshua : Em verdade, em verdade, vos digo que antes de Abraão nascer, eu sou! Então eles apanharam pedras para apedrejá-lo, mas Yeshua escondeu-se e saiu do templo.” (Yohanan, 8:54-59)

Antes de Abraão nascer, eu sou! Esta é a mais firme declaração de quem está consciente de ser o Messias. Os judeus não queriam apedrejar Jesus por ele supostamente pronunciar o nome divino, mas por ele dizer abertamente que era maior que Abraão, que era o patriarca maior de toda nação. Quando     Yeshua disse que quem obedecesse sua palavra não morreria, eles invocaram logo o nome de Abraão: Ora, Abraão morreu, será que você pretende ser maior que Abraão. E é exatamente isso que Yeshua deixou transparecer na sequência.

Portanto, antes mesmo de Abraão nascer, D-us já tinha planejado a vinda do Messias. É o cordeiro que foi imolado desde a fundação do mundo. Quando Yeshua (Jesus) declarou que era antes de Abraão nascer ele estava simplesmente se identificando com o Messias que havia de vir. Ele está dizendo: Eu sou aquele que antes de Abraão nascer já era aguardado, ou seja, eu sou o Filho do Homem que havia de vir ao mundo.

O próprio Yeshua era descendente de Abraão, mas vimos o próprio Abraão nasceu numa época que já se esperava a vinda de um Redentor escatológico. É por está consciente de ser o Messias que Yeshua  pode dizer que é antes de Abraão, ele não falou assim para dizer que era o próprio D-us, ele falou dessa maneira apenas para destacar sua preeminência nos planos eternos de D-us.  Desde a eternidade o Messias já estava predestinado a passar à frente de toda criação e assumir o lugar de primogênito (cabeça). Quando ele diz que é antes de Abraão nascer, ele está destacando a sua superioridade com relação a Abraão e também com relação a qualquer homem que já pisou na face da terra (mesmo com relação a Adão, o primeiro homem)

Antes de Abraão nascer, EU SOU [o que havia de vir, eu sou aquele que Abraão esperava ver o seu dia]. Eu sou o Messias que havia de vir. Yeshua falou como sendo a concretização histórica daquele que havia de vir.

O plano de D-us manifestar o Messias na realidade física já existia antes da criação do mundo mas só foi concretizado na plenitude dos tempos. No conceito rabínico quando se queria destacar a importância de alguma coisa se falava em sua preexistência. Mas é claro que não se tratava de uma preexistência real [objetiva], mas sim de uma preexistência ideal no plano da criação. Se bem que do ponto de vista divino o futuro é tão concreto quando o presente ou o passado.




Quem tem ouvidos para ouvir, OUÇA!

Shalom!!

Postagem em destaque

“Pai, glorifica-me com aquela glória”

  “Pai, glorifica-me com aquela glória” “Agora, Pai, glorifica-me junto de ti mesmo, com aquela glória que eu tinha contigo antes que...