terça-feira, 10 de outubro de 2023

O PAGANISMO E A FARSA POR TRÁS DO NASCIMENTO VIRGINAL



O PAGANISMO E A FARSA POR TRÁS DO NASCIMENTO VIRGINAL

              (Parte l)

Este  é um estudo que procura se basear unicamente na estrutura do texto que trata da concepção virginal de Yeshua nos evangelhos de Mateus e Lucas, relacionando-o com a genealogia apresentada pelos evangelistas e o conceito de Filiação Divina em diversas correntes de pensamento. 

Por outro lado, também tem o interesse de suscitar questões a fim de serem esclarecidas.

Este é um tema “complexo”, mas não difícil, principalmente porque nossas concepções doutrinárias infelizmente carregam ainda o peso da tradição, que se arrasta desde o 2º Século, quando entraram em cena os chamados “pais da Igreja”, homens que embora possuíssem muita sabedoria, acabaram por mesclar conhecimento bíblico com idéias da filosofia grega. 

Nós, estudiosos da bíblia, devemos “pesar” as conseqüências deste ato ao interpretar as escrituras. 

Quem quiser levantar críticas e objeções, saiba desde já que serão aceitas e muito bem vindas e que por isso também me dará o direito de apresentar uma réplica de igual intensidade. 

*Este é o objetivo do ensaio sobre a concepção virginal.*

O homem que apenas crê e não procura refletir, se esquece de que é alguém constantemente exposto a duvida, seu mais íntimo inimigo, pois onde a fé domina ali também a dúvida está sempre à espreita. 

Para o homem que pensa, porém, a dúvida é sempre bem recebida, pois ela lhe serve de preciosíssimo degrau para um conhecimento mais perfeito e mais seguro. [1]

O pensamento da geração divina na virgem não só é alheio ao TaNaKh vulgo Antigo Testamento e ao judaísmo, mas é também impossível na sua esfera. [2]

*2 – QUAL O OBJETIVO DAS GENEALOGIAS?*

A genealogia é uma ciência auxiliar da história que estuda a origem, evolução e disseminação das famílias e respectivos sobrenomes ou apelidos. 

A definição mais abrangente é “estudo do parentesco”. 

Como ciência auxiliar, desenvolve-se no âmbito da “História de Família”, onde é a peça fundamental subsidiada por outras ciências, como a Sociologia, a economia, a história da arte ou o direito. É também conhecida como “ciência da História da Família”, pois tem como objetivo desvendar as origens das pessoas e famílias por intermédio do levantamento sistemático de seus antepassados ou descendentes, locais onde nasceram e viveram e seus relacionamentos inter-familiares. [3].

Genealogia deriva da raiz “GEN” – significando nascimento, descendência (nobre) e depois família, raça (isto é, aqueles que são vinculados por uma origem comum). 

(Grifos Meus).

A genealogia em Mateus tem sua situação histórica mais natural na especulação genealógica e messiânica do judaísmo, conforme é conservada na literatura intertestamental e rabínica. 

Não era costume judaico seguir a linhagem da pessoa pelo lado materno e, portanto semelhante registro não teria sido conservado para Miriam. Este fato se percebe tanto nos pormenores do texto de Mateus 1:1-17 quanto na disposição global. 

Além disto, os temas e a função da genealogia acham paralelos na narrativa. [4]

O objetivo primordial de Mateus, a meu ver, encontra-se logo no inicio do capítulo e é a chave para se compreender a estrutura tanto da genealogia quanto do livro em sua totalidade. 

Mateus apresenta logo no início o “personagem da genealogia”, apontando para dois outros “personagens principais”: Abraão e Davíd. 

Sendo Abraão o patriarca do povo judeu e David o rei de Israel e fundador da dinastia real, estes dois são os principais depositários das promessas relativas ao Messias. 

Ambos foram o que foram a partir de uma “promessa de Deus”. 

Veja Genesis 22:18 e 2 Samuel 7:12 – 14.

Diante do exposto acima com relação à função da genealogia e do personagem da genealogia (vide as quatro versões abaixo), qual seria a intenção de Mateus (pressupondo-se que ele redigiu o texto como se encontra em nossas versões atuais) em registrar uma genealogia, se chegando ao personagem principal, que é o objeto da genealogia – YESHUA – este não teria sido gerado da forma comum?

A forma atual de Mateus 1:16 deveria pelo menos seguir o ritmo anterior, com o uso comum da formula “A gerou B, que gerou C”, descrevendo assim: 

“E Yoseph gerou Yeshua, que se chama O  Ungido”. 

A atual redação transforma a paternidade de Yoseph em mera paternidade adotiva, esvaziando a genealogia do seu sentido original e despojando-a até de sua finalidade principal tornando-a supérflua e sem sentido.

Disto isto, levantaremos uma questão: 

A passagem de Mateus 1:16-25 (na forma atual) poderia ser considerada uma interpolação tardia? 

Se o auditório de Mateus eram os judeus (creio que todos concordam com isto) e o objetivo era provar a messianidade de Yeshua em sua origem comum com os patriarcas Abraão e Davíd (v. 1), não haveria incompatibilidade entre a narrativa da concepção virginal e a genealogia? 

Se não há incompatibilidade, qual a explicação teológica plausível?

Confira Mateus 1:1 em versões distintas:

Livro da geração de Yeshua, filho de David, filho de Abraam:(Almeida Corrigida Fiel)

Registro da genealogia de Yeshua, filho de David, filho de Abraão: (Nova Versão Internacional)

Livro da origem de Yeshua, filho de David, filho de Abraão: (Bíblia da CNBB)

Livro da genealogia de Yeshua, filho de David, filho de Abraão:(Almeida Imprensa Bíblica);

Livro da origem de Yeshua, filho de David, filho de Abraão: (Bíblia de Jerusalém. 3a. Impressão. Paulus 2004).

Abraão e David são destacados como pontos essenciais no desenvolvimento genealógico da linhagem de Yeshua. 

“Filho de David” ressalta o messiado real e “Filho de Abraão”, que também é um título messiânico, ressalta a origem de Yeshua dentro da nação e da fé judaicas; Ele (O Messias) é a verdadeira descendência de Abraão em quem se cumprem as promessas de D-us. 

As genealogias começaram a aparecer depois do exílio da babilônia e eram comuns entre os judeus do tempo de Yeshua. 

Usavam-nas para guardar suas histórias, suas origens e sua própria identidade.

*2.1 – VIRGEM OU JOVEM MULHER?*

A leitura de “virgem”, em Mateus 1:23, é aquela da versão septuaginta grega e a glosa de Mateus, ao interpretar o nome simbólico Emanuel como um indicador da natureza sobre-humana do filho milagroso, implica igualmente que uma leitura não-judaica estava sendo considerada. 

Judeus teriam sabido que o nome Emanuel (D-us está Conosco) significava não a encarnação de D-us em forma humana, mas uma promessa de ajuda divina ao povo judeu. 

Leitores familiarizados com o hebreu Isaías ficariam perplexos com o argumento de Mateus porque a palavra usada pelo profeta do Antigo Testamento foi “jovem mulher” (em hebraico “almah”) e não “virgem” (em hebraico “bethulah”).

Uma jovem engravidando não é a mesma coisa que uma concepção virginal. 

A interpretação ardilosa de “almah” como “parthénos” (virgem, donzela) foi corrigida nas traduções gregas posteriores (primeiro ou segundo século D.C) de Isaías; Todas trocaram a “jovem menina” (neánis) pela “virgem” (parthénos) da versão septuaginta. 

Em linguagem clara, a genealogia e a narrativa do nascimento por Mateus refletem uma imagem de Yeshua nascido de uma virgem que foi criada exclusivamente e só tinha sentido para a igreja helenista. [5].

Segundo o Professor e Mestre em Teologia, Fábio Sabino, o termo traduzido como “virgem” gera sérios problemas na interpretação do significado do texto. 

Ele diz:

“O vocábulo que está no texto hebraico de Isaías 7:14 é - haAlmah, que significa: “a jovem”, “a moça” ou “a donzela”. 

A tradução literal da passagem deve ser a seguinte: “Portanto Ele – ETERNO -  vos dará um sinal: eis que a jovem grávida – terá um filho – lhe deu por nome Imanuel”. As versões em português como a ARA, ARC e ACF, não acompanham o texto hebraico e este mesmo vocábulo – haAlmah -  é atestado em outras passagens nas quais não conota virgindade (estrita)”.

Com relação ao vocábulo grávida, outro importante vocábulo que está no texto, diz o professor: 

“O vocábulo – Haráh - significa grávida ou conceber, nas versões em português seu uso está equivocado, pois foram traduzidas com sentido de verbo de modo a enfatizar sua ação em tempo futuro (ficará grávida), sendo que o sentido é de adjetivo e tempo presente. 

A raiz desta palavra é usada também para descrever relações sexuais. Ex.: 1 Samuel 4:19; 2 Samuel 11:5; Isaías 26:17”.

Continuando, o professor diz: “Outro vocábulo importante a ser analisado no texto é o vocábulo - “veiledet” -  que significa simplesmente “dada”. Todas as versões em português trazem o verbo no tempo futuro, (dará a luz), porém, no hebraico o verbo está no particípio, adquirindo, portanto uma ação já acabada, finalizada”. 

*O texto de Isaías 7:14 não tem nenhuma conotação messiânica.*

O exegeta J. M. Asumendi (professor do Instituto Católico de Paris), responde:

“Alguns séculos mais tarde, a tradução grega chamada dos Setenta (Septuaginta), traduz o termo por “PARTHENOS” que quer dizer virgem. 

Quando foi escrito Isaías 7:14 não tinha o sentido messiânico, foi só com a tradução grega que ele ganhou essa dimensão”.

C. Perrot, especialista da Literatura Israelita acrescenta:

“A jovem – em hebraico Almáh - designa a esposa do rei. 

A linhagem de David não se interromperá e Ezequias, filho de Acaz, consolidará a promessa davídica. 

É difícil saber em que época foi dada a este versículo uma interpretação messiânica; mais difícil ainda é saber por que a tradução grega dos Setenta – desde o século II a.E.C. – traduziu o termo Almáh por Parthenos, a “virgem”. 

Esperaria a tradição judaica de Alexandria o nascimento virginal do Messias? 

Seria talvez pretender demais.

Diríamos antes que o Messias era esperado de uma intervenção de D-us, mas sem que isso significasse necessariamente uma interrupção na descendência de David”.

Muitos cristãos ousam responder afirmando que a profecia teve dois cumprimentos:

Um no tempo do *👉🏿 rei Acaz e outra vez no tempo de Yeshua.👈🏿*

A profecia era de que a jovem daria a luz a uma criança e lhe poriam o nome de Emanuel e que quando essa criança soubesse distinguir entre o bem e o mal, Yehudah não mais seria ameaçada pelos dois reis. 

De que modo essa profecia se encaixa em Yeshua? 

Esse versículo nunca é citado no contexto porque nada mais da profecia bate com Yeshua, a não ser a equivocada tradução da palavra haAlmah, como mostramos acima. 

O menino Emanuel veio como sinal para o Rei Acaz de que Israel não seria atacado pelos dois reis.

“Pois antes que o menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, será desolada a terra dos dois reis perante os quais tu tremes de medo”. 

Isaías 7:16

Onde isso se encaixa na historia de Yeshua? 

Será que a profecia sobre Yeshua se resume a apenas ao versículo 14?

A única chance de parecer que essa profecia fala de Yeshua é:

1° - Traduzir Almah (Moça) como virgem. O que já se provou ser completamente errado;

2° - Desconsiderar todos os versículos que dão contexto à profecia. (todos imediatamente anteriores e posteriores).

Esta profecia, portanto não deve ser usada para “provar” a concepção virginal de Yeshua, embora em nossas bíblias esteja redigido dessa forma. 

A profecia se cumpriu nos tempos do profeta mesmo. Veja Isaías 8:3,4.


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