quarta-feira, 8 de abril de 2020

Yeshua (Jesus) foi criado antes de todas as coisas?

Yeshua (Jesus) foi criado antes de 
todas as coisas?





A ideia de que Yeshua (Jesus) é um ser sobrenatural, criado antes da fundação do mundo, primeira obra de D-us, faz parte da crença da esmagadora maioria dos cristãos. 

O que eles não sabem é que esta ideia se originou do desvio de sentido do texto original, já nos primeiros séculos da igreja.

Das três afirmações cristológicas: 

1) Yeshua (Jesus) foi criado, ou existia, antes de todas as coisas;
 2) Yeshua (Jesus) estava no céu junto de D-us; e, 
3) Yeshua  (Jesus) é Deus; a primeira parece ser a mais comumente defendida pelos “teólogos”. 

Mas, esta afirmação é falsa, como também as outras.

 Na verdade,Yeshua ( Jesus) não existiu antes de todas as coisas, não esteve nos céus antes de sua ascensão e nunca foi D-us, sempre foi homem. 

Mesmo que algumas passagens bíblicas possam, à primeira vista, levar a tal sentido, isto não se sustenta à medida que se avança por uma leitura mais detalhada e contextual. Jesus tem sua existência marcada a partir do seu nascimento de Maria, em Belém.


Para  defender a ideia de que Jesus já existia antes de todas as coisas, como a primeira obra de D-us, são catalogadas as seguintes passagens: 

João 8:58 — Antes de Abraão; Colossenses 1:1517 — Primogênito de toda a criação; ele é antes de todas as coisas; 

Apocalipse 3:14 – o princípio da criação de D-us;

 João 17:5  — Antes que o mundo existisse;

 Provérbios 8:22 – Antes de suas obras.

Devido a um gatilho pré-estabelecido na mente dos defensores da preexistência, uma falsa conexão de sentido é feita entre estes textos. 


O gatilho é ativado pela palavra “antes” e em certo grau pela palavra “princípio”. 


A ideia de que Yeshua ( Jesus)  é antes ou o primogênito da criação, a primeira das obras e antes de tudo, também está conectada com João 1:1, e, para eles, parece sustentar que Jesus é preexistente. 

Ainda que seja possível, em muitos casos, fazer conexões intertextuais, elas nunca devem contrariar outras passagens bíblicas. 

Esta parte será dedicada a uma análise hermenêutica dessas passagens em seu contexto imediato. 

Isto será mais do que suficiente para reconfigurar o verdadeiro sentido delas. 

Uma análise hermenêutica intertextual, prepararemos oportunamente.

“Princípio”, “primogênito” e “antes”

Estas três palavras: “princípio”, “primogênito” e “antes” quando relacionadas à pessoa de Jesus são interpretadas com um mesmo sentido pelos defensores da preexistência. Estas significam, para eles, que Jesus existia ou foi criado num tempo muito remoto, antes da existência do homem, do mundo e de todas as coisas.  Estaria certo isso? Tentar provar a preexistência baseado na conexão de sentido simples e direta entre estas palavras é um erro que se derivou da falsa interpretação do Logos de João 1:1 como sendo Jesus. Estas passagens não se referem ao contexto da criação, abordam outro assunto com outro sentido.


O “princípio” e o “primogênito” da criação de D-us



O qual é imagem do D-us invisível, o primogênito de toda a criação; (Colossenses 1:15)


 Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: (Apocalipse 3:14) 



Qual o sentido das palavras “primogênito” e “princípio” destas passagens? O sentido equivalente em seu contexto imediato é preeminência, importância, predominância, ascendência, primazia, superioridade, hegemonia, supremacia, império, poderio, soberania, força, domínio, governo entre outros (Veja isto em qualquer dicionário web). 

Yeshua (Jesus) foi colocado nesta posição em relação a todas as demais coisas.  

Os contextos da carta à igreja de Laodicéia e a carta aos Colossenses são esclarecedores e indica o assunto neste sentido. 

Não é possível abordar todo o contexto aqui, mas alguns pontos serão suficientes para orientar nosso entendimento. Comecemos por Colossenses. 



A expressão “princípio de toda a criação” não quer dizer que Yeshua foi criado antes da criação do mundo. Se a leitura do texto for adequadamente feita, o contexto imediatamente anterior de Colossenses 1:15 mostrará que o assunto é a chegada e a compreensão do evangelho do reino pelos irmãos da cidade de Colossos. 



Consequentemente, por todo o contexto, Paulo fala sobre o valor que eles devem dispensar ao evangelho. Paulo exorta para que eles continuem crescendo na sabedoria e entendimento. Diz também que este processo de regeneração pelo qual passavam era porque D-us os tirou “do poder das trevas” e os transportou “para o reino do seu Filho amado;” (Colossenses 1:13). Como visto, o texto fala de reino, de domínio, de império, de soberania. Os colossenses estavam debaixo do domínio das trevas e, agora, passam para o domínio de Messias . O texto apresenta um sistema hierárquico. Mesmo que a palavra hierarquia não aparece no texto, o assunto é o de que um ser superior domina outro inferior. No caso, o messias  é nosso Senhor. É esta ideia que define o sentido da palavra “princípio” do verso 15 do capítulo 1. 

Sem dúvida, Yeshua é o principio da criação de D-us, isto é, o mais importante Ser da criação, pois nEle todas as coisas foram congregadas. Veja que uma afirmação semelhante é feita pelo Apóstolo Paulo referindo-se à igreja em Efésios 2:10-15: 


“De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra; que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro; e sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos.”


Assim, também, em Colossenses Yeshua  é mostrado como o mais importante ser, o “cabeça” (Senhor) da Igreja:


“Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência”, (Colossenses 1:14-18) [Grifo nosso].

Vejam que a palavra “preeminência” marca o sentido de Cristo ser “primogênito”, “antes” e “princípio”. Ele é tudo isso porque é o mais importante, o que vem antes, vem primeiro, é o maior, mais elevado na escala hierárquica.

Outras passagens em Colossenses colaboram no mesmo sentido. 2:10: “E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade”. 2:15:

“E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo”. Cristo não é cabeça somente da igreja, mas é também das nações.

Ele exerce poder sobre todo o principado e poder. Os reinos do mundo foram criados para Ele.

Diz Salmos 2:8: “Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão.

” Quando Deus resolveu criar o homem sobre a face da terra, já havia imaginado que eles seriam para Yeshua ( Jesus).

Por isso, diz o verso 16 de Colossenses 1: “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades.”


Importante salientar que o verbo “criar” refere-se às coisas espirituais, como trono, principados, dominações e principados, não a céu e terra literais. A criação literal foi realizada somente por Deus. O texto ainda diz que foi criada nEle, isto é, Cristo é o motivo central e fundamento pelo qual tudo foi criado, mas não o criador.

Tudo foi criado por causa dEle e para Ele, encerra o verso 16.

Como metáfora, podemos dizer que é como um pai que compra um presente para o filho.

Neste contexto, qual o sentido das palavras “antes”, “primogênito” e “princípio”? É o sentido de soberania, senhorio, de domínio, ou seja, Jesus é o mais importante de todos e de tudo. “Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse,” (Colossenses 1:19). É com esta ideia de que Cristo é maior de todos que a Carta aos Colossenses segue dizendo:

“Portanto, ninguém vos julgue [domine] pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados,” (Colossenses 2:16) e

 “Ninguém vos domine a seu bel-prazer,” (Colossenses 2:18).

“Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como:” (Colossenses 2:20).

[Parêntesis e grifos são nossos] A ideia de reino, domínio, soberania, hierarquia etc., está presente em toda a Carta. “Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra”, (Colossenses 3:2).

Paulo segue pelos capítulos 3 e 4 recomendando uma obediência submissa de homens, mulheres, servos e patrões.


Não é possível que apenas umas poucas palavras no capítulo 1 fugissem a este sentido e venham significar que Jesus existiu antes da criação do mundo.

Definitivamente, a palavra “primogênito” aplicada a Jesus quer dizer que Ele é o mais importante do Seu reino.

A outra ocorrência importante é Apocalipse 3:14: “...o princípio da criação de Deus”.

Aqui cabe tudo o que foi falado acima. Não é necessário gastar energia com este texto, apenas alguns apontamentos serão suficientes.

O sentido da palavra “princípio” pelo contexto imediato significa proeminência, importância. Jesus é o mais importante da igreja de Laodiceia.

Ele é o seu soberano, é Ele quem já está assentado em um trono: “Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono”, (Apocalipse 3:21).

Entende-se facilmente que assim como a congregação de Colossos, a de Laodiceia encontrava-se com os mesmos problemas na sua relação com o mundo.

Eram cidades muito próximas e, com certeza, pertenciam a um mesmo estilo de vida.

Por isso, Paulo recomenda o revezamento na leitura das suas cartas: “E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses, e a que veio de Laodicéia lede -a vós também”, (Colossenses 4:16).

 É significativo, então, que a igreja de Laodiceia tinha as mesmas dificuldades dos colossenses em entender a soberania de Cristo na vida dEles, e foi tomada como um exemplo de igreja insubmissa a Cristo. 

Fechando o raciocínio, as expressões “primogênito”, “princípio” e “antes” que aparecem nos versos 15 e 17 de Colossenses e 14 do Apocalipse 3 tem sentido de importância, supremacia, soberania, hierarquia etc.

Paulo quer dizer que os colossenses deviam reconhecer a importância e supremacia de Cristo na vida deles em relação às coisas do mundo, pois tudo o que existe no mundo está debaixo de seus pés, conforme afirma aos efésios.

Assim também, Jesus através da carta à igreja de Laodiceia diz o mesmo para nós. A questão toda se concentra na ideia de que o reino de Jesus devia dominar a vida deles.


Não há nenhuma preocupação de Paulo em explicar aos colossenses que Jesus existia na antiguidade e criou o mundo.


“Antes” da criação do mundo,

Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou. (João 8:58) O Senhor me criou como a primeira das suas obras, o princípio dos seus feitos mais antigos. (Provérbios 8:22)

Talvez, a passagem de João 8:58 seja o maior refúgio dos preexistencialistas. Sempre que são confrontados, recorrem a este texto. Para eles a palavra “antes” significa um tempo anterior. Como estão fechados na ideia de que Jesus é preexistente, não recorrem a outros sentidos. Esta forma pragmática de proceder é um grande erro. 

Vamos entender. A palavra grega traduzida por “antes” em João 8:58 é πρρρ = prin. A palavra “antes” em português tem vários sentidos. Veja isso no dicionário de sinônimos: sinonimo.com.br.  Dois nos interessa nesta discussão: de tempo e de importância. De tempo, temos: anteriormente, previamente, precedente, primeiro, antecipadamente, antecedente. De preferência, temos: preferivelmente, preferencialmente, melhor. “Prin” é prefixo nas palavras: principal, princípio, príncipe. Principal é o mais importante. Princípio é o que predomina. Por exemplo, princípios da química, princípios da matemática, princípios da administração. Príncipe é chefe de estado de um principado soberano. Então, qual o sentido deve ser aplicado em João 8:58? A hermenêutica deve ser nossa ferramenta para auxiliar nesta decisão. Logo abaixo, a resposta.


Quanto à passagem de Provérbios 8:22 a palavra “princípio” realmente se refere a anterioridade. Não é preciso gastar tempo para explicar. A expressão “seus feitos mais antigos” define seu sentido. O que devemos esclarecer é que este texto de Provérbios não possui qualquer relação com a pessoa de Jesus. A relação que os preexistencialistas fazem é falsa. A primeira obra de Deus realmente é a sabedoria. Foi através dela que Deus realizou todas as coisas. Inclusive, Jesus, é fruto da sabedoria divina, mas não a própria sabedoria. 

Provérbios 8 é a descrição da característica divina presente na criação de todas as coisas. Tudo o que foi realizado por Deus é procedente de sua sabedoria. A sabedoria é a qualidade necessária para a execução de tudo. Deus aplicou sua sabedoria ao criar o universo e todas as coisas nele existente, os céus, as estrelas, a lua e o sol. O mar com todas suas espécies de vida. A terra com seus montes rios e florestas. Até mesmo o homem nada faz sem o uso da sabedoria. O engenheiro, o arquiteto, o construtor, o médico, o cientista todos precisam da sabedoria. Uma ponte, uma estrada, um edifício são feitos pela sabedoria que há no homem. Um excelente governo, a aquisição de riqueza, a prática da justiça, nada disso é possível sem sabedoria. Pessoas incautas quanto aos estilos textuais, não compreendem que a sabedoria está personificada. A sabedoria, que é abstrata, foi descrita de uma forma poética, figurativa, para que as pessoas pudessem compreendê-la. E nada neste texto liga a sabedoria à pessoa de Jesus, mas somente às obras de Deus. 

A técnica utilizada pelos preexistencialistas para conectar Jesus com a sabedoria de Provérbios 8 foi criar uma conexão de sentido com outros textos bíblicos não relacionados. Tais textos são: João 1:1, “no princípio estava com Deus”; Colossenses 1:15, “primogênito de toda criação”; 

Apocalipse 3:14, “princípio da criação de Deus”. Estes textos não se relacionam entre si. João fala da palavra de Deus, Colossenses e Apocalipse da soberania de Jesus. Qual a relação com a sabedoria? Nenhuma. 


Voltando à questão do “antes” de João 8:58, o contexto indica que a palavra grega “prin” (πρρρ) está mais relacionada com a ideia de superioridade do que anterioridade. Jesus não disse que ele existiu antes de Abraão. A palavra usada por ele é “sou”. Esta indica uma característica dEle, não tempo de existência. Jesus estava respondendo ao questionamento dos judeus que desejavam saber quem Ele era, não quando havia nascido: “Quem te fazes tu ser? (João 8:53). No mesmo verso: “És tu maior do que o nosso pai Abraão, que morreu? Vejam que os judeus estavam preocupados com a importância de Jesus. É certo que o contexto nos indica que o significado mais coerente da palavra “antes” é no sentido de superior, não anterior.

Esta confusão de sentidos tem princípio no arianismo. O arianismo foi:
“uma visão cristológica sustentada pelos seguidores de Ário, presbítero cristão de Alexandria nos primeiros tempos da Igreja primitiva, que negava a existência da consubstancialidade entre Jesus e Deus Pai, que os igualasse, concebendo Cristo como um ser pré-existente e criado, embora a primeira e mais excelsa de todas as criaturas, que encarnara em Jesus de Nazaré. [...]” 


Ário viveu no quarto século e foi protagonista no combate aos pensamentos de Atanásio de Alexandria. Suas ideias eram positivas quanto a não igualdade entre Jesus e Deus. Mas já influenciado pelo desvio de sentido do logos de João 1:1, encarou Jesus como um ser preexistente. O arianismo é uma corrente de pensamento paralela ao trinitarianismo e tanto um como outro tem origem na discussão cristológica. Tanto um como o outro já estavam fora do contexto bíblico. Essa ideia de preexistência de Cristo é a base da doutrina da trindade.  


Concluindo. Estas duas passagens que utilizam a palavra “antes”, João 8:58 e Provérbio 8:22 não tem relação entre si. Como também não há relação com a passagem de João 17:5 que fala da “glória que tinha contigo antes que o mundo existisse”. Evidentemente, o “antes” de João 17:5 se refere a tempo, mas o sujeito da oração e a glória, e não Jesus. Assim também, em Provérbios se fala da sabedoria divina, não do homem Jesus. 

Enfim, a palavra original grega é “prin”, traduzida para “antes”. Mas, entre os diversos sentidos de “prin” está o de superioridade. “Prin” também é prefixo de palavras que indicam superioridade, como exemplo, “principal”. Não há razões para dar crédito a uma ideia que claramente surgiu da mente dos “Pais da Igreja” e não coaduna com a palavra de Deus. Fica claro que não se pode afirmar que Jesus foi criado “antes da fundação do mundo”. 

Shalom







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