sábado, 18 de abril de 2020

Isaías viu sua Gloria e falou DELE

Isaías viu sua Gloria e falou DELE 



“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono… ” (Isaías 6:1). “Isaías disse essas coisas porque viu Sua glória e falou dele” (João 12:41). A tradução da NVI foi além: “Isaías disse essas coisas porque viu a glória de Yeshua (Jesus)e falou sobre ele” (João 12:41). Como você pode ver, a Nova Versão Internacional troca o pronome (αὐτοῦ) pelo nome pessoal “Jesus”. A NVI quer que você acredite que por volta de 750 aC, Isaías teve uma visão de Jesus (preencarnado) no céu como Deus. De onde partiu tanta ousadia? Os tradutores da NVI estão apenas sendo descuidados com o texto, ou eles deliberadamente se decidiram pela causa trinitariana? Existe alguma justificativa para essa alteração não tão sutil do texto pela NVI? Será que Isaías viu “o Senhor [Jesus] sentado em um trono com a orla de Suas vestes enchendo o templo” (Isaías 6: 1)? Os estimados trinitarianos crêem que sim; eles têm certeza de que João 12:40, 41 faz referência direta a Isaías 6:1-3, que diz: “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de seu manto enchiam o templo. Acima dele havia serafins; cada um tinha seis asas; com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés e com duas voavam. E clamavam uns aos outros: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória”. 

A tradução da NVI representa uma séria leitura errada deste “texto de prova” para a doutrina da deidade e preexistência de Cristo.

E não esqueça caro amigo leitor o que vou dizer-lhe aqui: Não importa em quantos outros textos a NVI é fiel aos originais. Isso não faz dela uma tradução exclusiva, pois o mesmo acontece com outras traduções, que em muitos textos parecem ser exatas, mas em outros são um desastre. O certo é consultar todas as traduções, e usar aquilo que está de acordo com todo o contexto das Sagradas Escrituras. 

Nesse caso aqui discutido, não devemos aceitar como verdadeira uma tradução textual tendenciosa assumindo as coisas sem uma investigação adequada dos fatos. E é isto que vamos fazer.

Não é difícil descobrir por que os trinitarianos creem que João 12:41 é uma referência positiva para Isaías 6: 1-3. Afinal, as palavras “viu” e “glória” são encontradas em João 12: 41 e Isaías 6: 1-3. Isaías “viu” o SENHOR e Sua “glória” enchendo o céu e toda a terra. E João diz que Isaías “viu sua glória” quando “falou dele”. Então, se João está dizendo que Isaías viu “a glória de Jesus” no céu e “falou dele” em Isaías seis, está resolvida a questão para os trinitarianos: Jesus é o Deus que está assentado num “alto e elevado trono” – para os trintaríamos Jesus está sendo adorado pessoalmente pelos serafins como Deus. Isso tornaria a visão de Isaías de um Jesus preexistente, visto pelo profeta 750 anos antes dele se tornar um ser humano.

Antes de determinar se João realmente está dizendo que Isaías viu Jesus como Deus no céu, é necessário examinar o contexto no qual João está escrevendo, o que é muito importante. Vamos analisar a amplitude de João, capítulo 12, antes de focar no versículo 41.

A primeira coisa que devemos ter em mente é: o contexto de João 12 fala da GLÓRIA DE JESUS ATRAVÉS DO SOFRIMENTO. Mesmo uma leitura superficial de todo o capítulo 12 de João mostra que o assunto diz respeito aos sofrimentos e a glória de Jesus por meio do seu sacrifício no calvário. João 12 não está falando sobre “ontologia”, ou seja, ele não está escrevendo sobre o “ser” de Deus ou a “natureza” de Deus. 

Cena 1: O capítulo abre com o registro em Betânia, “seis dias antes da Páscoa”. É a última semana da vida de Jesus. Todo o clímax de seu ministério está sobre ele. Jesus logo será a Páscoa sacrificial, o “Cordeiro de Deus” (João 1: 29). Mas, por enquanto, Jesus está desfrutando de uma “ceia” com seus amigos, incluindo Lázaro, a quem ele ressuscitou dentre os mortos. Durante o jantar, Maria usa um “unguento genuíno e puro” para ungir os pés de Jesus” – e chora por ele. O próprio Jesus descreve esse ato de devoção como um retrato “para o dia do seu enterro” (v. 3, 7). A sombra do Calvário paira no ar – os principais sacerdotes se aconselhavam” sobre como eles poderiam não apenas matar Jesus, mas também Lázaro (v 10). O sofrimento do Calvário e a rejeição de Israel ao seu Messias são amplamente mostrados quando começamos a ler João capítulo 12.

Cena 2: Em seguida, Jesus faz a entrada triunfal em Jerusalém (vv 12-13). A multidão que se reuniu para a festa da Páscoa escolta Jesus montado em um jumento. Eles balançam os galhos das palmeiras e gritam: “Hosana! Bendito aquele que vem em nome do Senhor, o rei de Israel“. A caminho da cidade sabemos que Jesus chorou sobre Jerusalém porque ela não o reconheceu como seu rei. O registro de João acrescenta que “Seus discípulos não entenderam a princípio”, mas quando Jesus foi glorificado, eles lembraram que essas coisas haviam sido escritas e porque haviam feito essas coisas a ele” (v 16). João cita indiretamente o profeta Zacarias (9: 9) e o salmista (118: 25)

quando lembra que “essas coisas foram escritas”. Somente após Jesus ter “sido glorificado”, depois de sua morte, sepultamento, ressurreição e ascensão ao céu, os discípulos viram a glória messiânica dele. 

Cena 3: João nos apresenta a seguir “certos gregos” que querem “ver Jesus” (v 21). Depois de falarem com Felipe, este e André foram ter com Jesus, mas Jesus responde enigmaticamente: “chegou a hora de o Filho do Homem ser glorificado” (v 23). Jesus conta a eles uma pequena parábola sobre a necessidade de um grão de trigo cair no chão e morrer antes que possa dar muito fruto (v. 24). Jesus explica claramente que o caminho para a glória e a salvação de seus seguidores também será por meio de sacrifício e negação (v 25-26). Sim, eles “verão” a Jesus, mas não como anteciparam. 

Essa perspectiva de sofrer e morrer parece perturbar profundamente o próprio Jesus. Porém, Ele não pedirá ao Pai para poupá-lo de um destino tão cruel (v 27). Ele ora: “Pai, glorifique o teu nome” (v. 28). Uma voz do céu responde: “Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei“. Deus será glorificado pela morte de Jesus. Jesus então diz aos seus ouvintes que estará no processo de ser “levantado da terra” – referindo-se à sua morte humilhante e consequente ressurreição – e que os planos de Deus para o mundo serão consumados (vv 28, 32-33). Embora ele morra sozinho, a glória lhe é garantida. 

Para muitos, com o benefício da retrospectiva, isso é facilmente entendido. Mas para os ouvintes da primeira audiência, tudo isso é sombrio e enigmático. O que é toda essa conversa sobre morrer? “E quem é o filho do homem?”, perguntam (v 34). Após esse diálogo Jesus “partiu e se escondeu deles” (v 36). Assim, o leitor cuidadoso observará que todo o contexto que antecede nosso “texto de prova” no versículo 41 de João 12, diz respeito a como Jesus seria glorificado, e que sua glória viria através de seu sofrimento e execução pública. 

Com essa breve explanação em mente, vamos agora para a parte principal de João, os versículos 37-41:

“E embora tivesse operado tantos sinais diante deles, não criam nele; para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías: (aqui é Isaías 53:1) Senhor, quem creu em nossa pregação? e a quem foi revelado o braço do Senhor?

Por isso não podiam crer, porque, como disse ainda Isaías: (aqui é Isaías 6:10) cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e se convertam, e eu os cure. 

Estas coisas disse Isaías, porque viu a sua glória, e dele falou“.

Quando João escreve que Isaías disse “essas coisas” – que “viu sua glória”, ele não está se referindo a quando Isaías viu a glória do Senhor em Isaías 6:1-3. Ele está dizendo que Isaías viu a glória futura quando o Messias seria exaltado através do sofrimento e da morte. Ou seja, “para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?” (João 12:38) é a referência correta para identificar a glória que Isaías viu, e é um texto que está no capítulo 53 de Isaías (v 1). 

O capítulo todo se refere ao ministério e sofrimento de Jesus aqui na terra. Mostra que a sua pregação não seria aceita e também apresenta como o Messias deveria sofrer em Sua missão. Se levarmos em consideração todo o pensamento desse capítulo e juntarmos com o contexto de João 12, confirmaremos que Jesus estava tratando de Seu ministério e o sofrimento que teria em Sua crucificação e a glória que deveria seguir. Ele fala isso pouco antes dos versículos aqui em discussão: “E Jesus lhes respondeu, dizendo: É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado. Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (João 12: 23-24).

Fica evidente que Jesus estava falando a respeito de sua morte sacrificial, e que ele seria glorificado por isso. Porém, conforme podemos ler no verso 34 do mesmo capítulo, os judeus não estavam acreditando nessas palavras. Por este motivo, o Senhor os alerta dizendo: “Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz”, mas mesmo assim João relatou que “ainda que tinha feito tantos sinais diante deles, não criam nele” (Jo 12:37). Por isso João cita o texto de Isaías 53:1, mostrando que ninguém daria crédito às palavras de Jesus, e em seguida João menciona o texto de Isaías 6:10 para mostrar que os corações daquelas pessoas ficaram endurecidos. No entanto, Jesus nunca desistiu de sua missão, mas continuou firme até o final, até o momento em que deveria ser “levantado da terra” para salvar a todos que nele cressem. Essa foi a glória que João menciona ter sido vista pelo profeta Isaías. 

E para que você entenda melhor precisamos apenas ajuntar os dois textos de João: “Isaías disse estas coisas [“ Senhor quem creu na nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor”] quando viu a sua glória e falou dele”. A glória que Isaías viu está em todo o capítulo 51. Portanto, se foi o Pai quem disse as palavras de Isaías 6, então devemos buscar a visão da glória de Jesus no outro texto. E de fato, ESTAS COISAS que revelam a glória dele – do filho, não do Pai – só podem ser a referência citada no verso 38 de João 12, que é exatamente a réplica de Isaías 53:1, que diz: “Senhor quem creu na nossa pregação? e a quem foi revelado o braço do Senhor? 

Leia o restante do capítulo e observe atentamente como Isaías viu a glória de Jesus:

 Pois foi crescendo como renovo perante ele, e como raiz que sai duma terra seca; não tinha formosura nem beleza; e quando olhávamos para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos.

Era desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores, e experimentado nos sofrimentos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. 


Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.

 Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. 

Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. 

Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca.

 Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi atingido. 

E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca. 

Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o bom prazer do SENHOR prosperará na sua mão. 

Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si

 Por isso lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores”

Compare com essas passagens abaixo e observe que a glória que o profeta Isaías viu tem origem no sacrifício e morte de Cristo. De fato, Jesus não foi glorificado até que Deus o ressuscitou dentre os mortos: 

“E isto disse ele do Espírito, que aqueles que acreditavam Nele estavam para receber, porque o Espírito Santo ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado” (João 7:39). 


“JESUS falou assim, e, levantando os seus olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também te glorifique a ti” (João 17:1). 

“Os seus discípulos, porém não entenderam isto no principio: mas, quando Jesus foi glorificado, então se lembraram de que isto estava escrito dele, e que isto lhe fizeram” (João 12:16).

“Vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, POR CAUSA DO SEU SOFRIMENTO E MORTE, FOI COROADO DE GLÓRIA e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem” (Hebreus 2:9).

 “O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Servo Jesus, a quem vós traístes e negastes perante Pilatos, quando este havia decidido soltá-lo” (Atos 3:13).

 Pedro diz novamente que Deus “ressuscitou [Jesus] dentre os mortos e lhe deu glória…” (1 Pedro 1:21). 

O escritor do Quarto Evangelho não disse em momento algum que Jesus era Àquele que estava assentado sobre o trono na visão de Isaías, nem que Jesus fazia parte de uma trindade. Compreender dessa forma é ir além do que os textos bíblicos estão afirmando. O contexto deve sempre reinar, e qualquer leitura justa de João 12 prova que o assunto é a glória através do sofrimento por Jesus. Assim, “essas coisas” não são questões de ontologia, ou seja, a questão do “Ser” de Deus não está em discussão. E para Jesus, é uma glória em perspectiva, não porque ele é Deus, mas porque ele é fiel até a morte. De fato, “essas coisas” exigidas pelo versículo 41 de João 12 aponta para a citação em João 12: 38, que vem de Isaías capítulo 53, não de Isaías 6: 1. Isaías 53 é a grande profecia do Servo Sofredor, onde é previsto que o Messias seria “um homem de dores e familiarizado com a dor” e seria “desprezado” ”e afligido” e etc. Assim, João está dizendo que Isaías “viu” o ministério vindouro do sofrimento e a subsequente glória do Messias. 

A segunda citação em João 12:40, relativa à cegueira e dureza de Israel, é tirada de Isaías 6 durante a visão de Isaías do Senhor dos exércitos no céu. Depois que Deus purificou e comissionou Isaías para seu ministério profético, o Senhor explica a rejeição que o próprio Isaías experimentaria em breve quando fosse pregar a Israel (Is 6: 10). O povo não vai ouvir Isaías por causa de sua dureza e incredulidade. Era o mesmo tipo de rejeição que Jesus estava encontrando em João 12. Embora Jesus tivesse realizado muitos “sinais”, o povo “não estava acreditando nele” como o Messias há muito prometido (Jo 12:37). 

Não apenas o próprio Jesus na passagem de João conecta seus sofrimentos messiânicos como o meio de trazer “glória”, mas também foi assim que os outros apóstolos entenderam. Lembre-se, Jesus já nos indicou que, quando fosse “levantado” de sua morte, o Pai seria glorificado e também o recompensaria com GLÓRIA (João 12: 27). 

Lembre-se também de que os discípulos não tiveram essa conexão entre os sofrimentos do Messias e sua glória (João 12:16). Porém, após a morte, sepultamento, ressurreição e ascensão de Jesus ao céu à mão direita de Deus, o Pai, os discípulos finalmente o entenderam: “Desta salvação inquiririam e indagaram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que para vós era  destinada, indagando qual o tempo ou qual a ocasião que o Espírito de Cristo que estava neles indicava, ao predizer os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir” (1 Pedro 1:10-11).

Certamente Isaías foi um dos profetas mencionados por Pedro que séculos antes havia visto “os sofrimentos do Messias” e “as glórias” que se seguiriam. Em harmonia com Pedro, seu companheiro e apóstolo, João, concorda que os profetas Zacarias, o salmista e Isaías viram os sofrimentos do Messias e a glória que se seguiria (João 12: 12-16; 37-41). 

Paulo também sabia que “essas coisas” estavam escritas nos profetas, de como o servo sofredor do Senhor “suportaria nossas iniquidades” ao “derramar-se até a morte”. Mas Paulo também sabia que Isaías tinha visto a recompensa gloriosa do Messias e como o Senhor Deus “veria” a “angústia de sua alma e ficaria satisfeito” (Is 53: 10), e depois que ele se “esvaziou” até a morte, o Apóstolo diz que “Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Filipenses 2:9-11). 

E novamente: João disse que Isaías viu a glória de Jesus apontando para os registros proféticos do capítulo 53 e não do capítulo 6. O capítulo 53 de Isaías nos fornece uma fonte rica dos “sofrimentos previstos de Cristo e das glórias a seguir”. A glória de Deus é revelada no caminho de humildade do Messias. E através de seus sofrimentos, Jesus sabia que Seu Pai também seria glorificado. As multidões de Israel em João 12 não viram isso.

Esse ensinamento já foi mencionado anteriormente no evangelho de João. Por exemplo, prevendo seus sofrimentos e morte – e sabendo que Israel o matará, Jesus disse: “o Pai é quem me glorifica” (João 8: 54). Eles se recusaram a acreditar nas credenciais messiânicas de Jesus. Eles se recusaram a acreditar que o ensino de Jesus tem o poder de impedir alguém da “morte eterna” (João 8:51). Jesus retruca: “Abraão, vosso pai, se alegrou em ver o meu dia, ele o viu e alegrou-se” (João 8:56). Espero que você tenha entendido isso; Abraão “viu” o futuro dia da glória do Messias. Isto é o que Isaías e todos os profetas também viram, o futuro “dia” de glória do Messias.

Isaías viu o Deus de Abraão, Isaque e Jacó 



Não há um pedaço de evidência textual testificando que Isaías viu a “glória de Jesus” nas visões registradas no capítulo 6. Isaías também não diz nada de um Deus que é uma Trindade na sua visão. 


Na Bíblia Hebraica (comumente chamada de Antigo Testamento), existem quase sete mil ocorrências do nome divino de Deus (escrito em hebraico com quatro consoantes (YHWH). Por isso devemos nos ater ao fato de como é importante entender quem é o Deus da Bíblia. Em todas  essas quase sete mil ocorrências do nome pessoal de Deus, os verbos e pronomes pessoais acompanhantes estão no singular. A linguagem não tem meios mais seguros de comunicar que o Senhor é uma pessoa e não duas ou até três.

 Embora alguns tentem ler de forma tríplice, “Santo, Santo, Santo”, desejando ardentemente identificar uma ‘divindade’ trina, sabemos que o resto da adoração angélica é ao Deus monoteísta, o único Deus, pois eles dizem: “Santo, Santo Santo, é o Senhor dos exércitos, toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6:3). Ou seja, sabemos que Deus é uma Deidade Individual por causa dos verbos singulares e pronome pessoal singular que os acompanha. De acordo com todos os profetas, Isaías faz uma distinção clara entre Deus Pai e o Messias.

Para Isaías, o Senhor é uma única pessoa e nunca é confundido como dois deuses ou duas pessoas que são Deus. Para Isaías, Yahweh é o Deus que “formará” Seu Servo Messiânico no ventre de sua mãe (Isaías 49:5). Para Isaías, o Messias é referido como “o ramo do Senhor”, aquele que “se deleitará no temor do Senhor”, aquele “escolhido por Deus”, aquele em quem o Senhor “se deleita”, aquele que será o sábio “servo” do Senhor, aquele que cresceria diante do Senhor como “um renovo” e aquele em quem o Senhor lançará “a iniquidade de todos nós” (Is 4: 2; 11: 2-3; 42: 1; 52:13; 53: 2, 6,10; 61: 1). Assim, ao longo de todo o livro de Isaías, o profeta nunca confunde o Messias vindouro com o Deus Pai. Para Isaías, o Messias não é o Senhor dos exércitos. 

Além disso, dizer que Jesus é o Senhor é quebrar a regra trinitária inviolável de que as Pessoas da Divindade não devem ser confundidas. Lembre-se, Yahweh é um nome pessoal. Dizer que Deus o Pai é Yahweh e ao mesmo tempo dizer que Jesus é o Senhor Deus é confundir a “Primeira Pessoa” da Trindade – Deus o Pai – com a “Segunda Pessoa” da Trindade – “Deus o Filho”. Se dissermos que João está equiparando Jesus a Yahweh em João 12:41, estaremos defendendo não o Trinitarianismo, mas o Modalismo. Modalismo é o conceito de que Jesus é Deus Pai se expressando em um “modo” ou expressão diferente (é proposto hoje por grupos como os Pentecostais da Unidade), que Deus se manifestou como o filho. Ou seja, que são literalmente um só.

 Jesus nunca se identificou como o Deus Pai, um conceito que nem os trinitarianos aceitam. Isaías afirmou que viu o Senhor em Isaías 6, e não Jesus, o Messias. Mas o que Isaías viu e falou (capítulo 51) é a visão profética da rejeição e subsequente glória que o Messias alcançaria 750 anos no futuro. “Essas coisas” que Isaías viu falam do cumprimento da profecia nos dias de João sobre os sofrimentos do Messias e a glória seguida à sua ressurreição.

Dizer que Isaías viu Jesus como Deus no céu é desconsiderar o contexto imediato de João 12:37-41, os quais falam dos sofrimentos de Jesus como o prelúdio necessário para sua glória messiânica; é ignorar a distinção consistente em todo o livro de Isaías e de todos os profetas do AT, que Deus é “uma pessoa” e que o Messias prometido nunca é Deus.

 Provando que Isaías viu o Pai, não o Filho (Is 6:1-10)


“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as orlas do seu manto enchiam o templo. Ao seu redor havia serafins; cada um tinha seis asas; com duas cobria o rosto, e com duas cobria os pés e com duas voava.

 E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda está cheia da sua glória. E as bases dos limiares moveram-se à voz do que clamava, e a casa se enchia de fumaça. Então disse eu: Ai de mim, pois estou perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos! 


Então voou para mim um dos serafins, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; e com a brasa tocou-me a boca, e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniquidade foi tirada, e perdoado o teu pecado. Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem irá por nós? 

Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim. Disse, pois, ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda o coração deste povo, e endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e entenda com o coração, e se converta, e seja sarado“. 

O mais impressionante é que o texto esclarece de forma cristalina, não deixando dúvida alguma, que Isaías viu o Deus de Abraão Isaque e Jacó, o Deus dos exércitos, uma designação exclusiva do Pai – Isaías viu um ser apenas, não dois. E mais impressionante ainda é ver como os trinitarianos destronam o Senhor dos exércitos na visão de Isaías e colocam Jesus no lugar. Jesus nunca esteve no trono do Pai até que ele foi exaltado à destra de Deus depois de sua ressurreição. O Senhor dos exércitos de Isaías 6 é o Pai. Ele é visto em Apocalipse como “O Todo- poderoso”, e está separado do cordeiro. 

As mesmas designações (“Todo-poderoso e Senhor dos exércitos”) são aplicadas ao Pai no Velho Testamento. 

Vejam os textos: 


Jeremias 32: 18 “Tu usas de misericórdia até mil gerações, mas retribuis o pecado dos pais nos filhos. Tu és o grande e poderoso Deus, cujo nome é SENHOR dos Exércitos“. 

Salmos 84: 12 “Ó SENHOR dos Exércitos, bem-aventurado o homem que confia em ti“. 

Salmos 89: 8. “Ó SENHOR, Deus dos Exércitos, quem é poderoso como tu, SENHOR, com a tua fidelidade que te cerca?”

Gênesis 17: 1. “Quando Abrão tinha noventa e nove anos, o SENHOR lhe apareceu e disse: Eu sou o Deus Todo-poderoso; anda na minha presença e sê íntegro“.

 O SENHOR (YHWH) do Velho Testamento sempre á uma referência ao Deus Todo-poderoso. “Todo-poderoso” e “Senhor dos exércitos” são títulos que Jesus nunca recebeu nas Escrituras. 

Outro ponto importante a se notar é que o capítulo 4 e 5 do livro de Apocalipse deixam bem claro que os seres celestiais proclamam “Santo, Santo, Santo” para Aquele que está assentado sobre o trono, sendo esse o Deus Todo-poderoso, o Ser que difere da pessoa do Cordeiro: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso“, Ap 1:8. 

Observe com atenção nos versículos citados a seguir que “Aquele que é, que era, e que há de vir” está separado de Jesus: “João, às sete igrejas que estão na Ásia: Graça e paz seja convosco da parte daquele que é e que era, e que há de vir, e da dos sete espíritos que estão diante do seu trono; E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados” (Apocalipse 1:4, 5). 

O Todo-poderoso, O Senhor dos exércitos, aparece em mais passagens do Livro de Apocalipse – sempre separado de Jesus. O escritor, ao contemplar a nova Jerusalém que desce do céu, registra que 
“Nela não vi santuário, pois seu santuário é o Senhor Deus Todo-poderoso e o Cordeiro“, Ap 21:22. 


O Senhor dos Exércitos visto por Isaías em glória é o mesmo citado como sendo o Deus de Jesus em Apocalipse 2:7; 3:2, 12, que se distingue do Cordeiro em Apocalipse 5:1-7; 5:13; 6:16; 7:10, 15.

Veja as passagens


 Apocalipse 2:7, “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer, dar-lheei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus“. 

Apocalipse 3:2, 12 “Sê vigilante, e confirma os restantes, que estavam para morrer; porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus… A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome“. 

Preste atenção nesses registros onde você também poderá constatar que Deus é distinto do Cordeiro:

Apocalipse 5:1-7,13 “E vi na destra do que estava assentado sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos. E vi um anjo forte, bradando com grande voz: Quem é digno de abrir o livro e de desatar os seus selos? 

E ninguém no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, podia abrir o livro, nem olhar para ele. E eu chorava muito, porque ninguém fora achado digno de abrir o livro, nem de o ler, nem de olhar para ele. E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos.

  E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete pontas e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra.

 E veio [o Cordeiro], e tomou o livro da destra [de Deus] daquele que estava assentado no trono. 

E ouvi a toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre“.


 Apocalipse 6:16, “E diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro“. 

Apocalipse 7:10, “E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro“. 

Agora leia Isaías 6:1, “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono…”. 

O mesmo Deus e Senhor visto assentado no trono em Apocalipse, distinto do Cordeiro (Jesus), é aquele que Isaías viu assentado no trono em sua visão registrada no capítulo 6:1-10. Isaías viu a glória do Deus Todo-poderoso, que é o Pai. Isaías não viu Jesus. Jesus não falou com Isaias. O Messias não falava no Velho Testamento porque ele ainda não existia: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho…”. (Hebreus 1:1-2). 

O Filho de Deus jamais existiu antes de nascer em Belém. O Salmista sabia disso, como sabia também que Ele não estava no céu: “Quem, nos céus se compara ao SENHOR? Quem é igual ao SENHOR entre os seres celestiais? (Salmos 89:6).

O Espírito Santo falando

Vamos agora analisar Atos 28:25-28, que diz: “E, como ficaram entre si discordes, despediram-se, dizendo Paulo esta palavra: bem falou o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías, dizendo: vai a este povo, e dize: de ouvido ouvireis, e de maneira nenhuma entendereis; e, vendo vereis, e de maneira nenhuma percebereis. Porquanto o coração deste povo está endurecido, e com os ouvidos ouviram pesadamente, e fecharam os olhos para que nunca com os olhos vejam, nem com os ouvidos ouçam, nem do coração entendam, e se convertam, e eu os cure. Seja-vos, pois, notório que esta salvação de Deus é enviada aos gentios, e eles a ouvirão“.

Os versos 26 e 27 são referências ao texto de Isaías 6: 9-10. É o mesmo texto citado por João no capítulo 12. Dessa vez é Lucas quem escreve, pois ele é o autor do livro de Atos dos Apóstolos. Em Isaías 6:8-9, o profeta diz que foi o Senhor quem falou com ele em visão, ou seja, o grande Rei que estava assentado sobre o trono, conforme podemos ver a seguir: 

“Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim. Então disse ele: vai, e dize a este povo: ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis” (Isaías 6:8-9). 

Note novamente que no relato descrito por Lucas, o apóstolo Paulo refere-se como sendo o “Espírito Santo” como aquele quem falou com Isaías. Leia outra vez o verso de Atos: “E, como ficaram entre si discordes, despediram-se, dizendo Paulo esta palavra: bem falou o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías…” (Atos 28:25). 

Se a doutrina da trindade fosse verdadeira, isso seria uma contradição, pois compreendem que cada pessoa da Divindade são diferentes entre si e que existe uma distinção clara entre cada uma delas, conforme expliquei no início desse estudo. Ora, se o profeta Isaías diz ter sido o Senhor quem falou com ele em visão, logo não pode ter sido outra pessoa, mesmo que essa “suposta pessoa” faça parte do mesmo ser. Na mentalidade judaica, expressa nos relatos bíblicos, o “Espírito Santo” nada mais é do que a própria pessoa de Deus agindo de forma espiritual. 

O mesmo acontece no relato de Atos 5:3-4, onde é intercalado o termo “Espírito Santo” e “Deus”, pois o primeiro é uma referência ao próprio Deus: “Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus” (Atos 5:3-4).


Pedro afirma que Ananias mentiu ao Espírito Santo, e em seguida diz novamente que ele mentiu para Deus. Portanto, o termo “Espírito Santo” relatado na Bíblia pode muitas vezes estar se referindo a própria pessoa do Pai, e não a uma terceira pessoa da trindade. A distância entre Jesus e a visão de Isaías é de sete séculos e meio. Jesus não estava lá. Isaías não viu a glória de Jesus em 6:1-3, pois era o Pai celestial falando.

O que podemos concluir é que os relatos de Isaías 6, João 12 e Atos 28 não são uma prova da doutrina trinitariana. Como visto, os textos foram analisados honestamente, o que nos possibilitou de forma cristalina encontrar interpretações contrárias ao que ensina a doutrina da trindade. O próprio conceito trinitariano acaba perdendo a sua credibilidade ao tentar provar uma trindade com base nessas passagens, pois na distinção das três pessoas, acabam confundindo cada uma delas nas próprias passagens, contradizendo o respectivo ensinamento que cada um é uma pessoa distinta da outra. 

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